Criança Não Namora
- Adriana Frony

- 21 de mai.
- 3 min de leitura

— Mamãe, o Joãozinho quer namorar comigo!— Que história é essa? Meu Deus, vou contar para o seu pai.— Papai, a Mariazinha é minha namorada.— Parabéns, filhão! Esse é o meu garoto! Puxou o pai!
Frases como essas já foram ouvidas por muitos de nós. Contudo, o fato é: criança não namora. Não é “bonitinho” o Joãozinho namorar a Maria, ou o Enzo ter beijado a Valentina. A infância é breve, efêmera como um sopro, e precisa ser vivida com as experiências próprias da sua faixa etária. É um tempo sagrado para aprender aspectos essenciais da vida cotidiana e garantir um desenvolvimento saudável e feliz.
Criança não namora!
Entretanto, é preciso lembrar que, historicamente, os casamentos infantis ainda ocorrem em diversos lugares, como na Índia, onde quase metade das meninas se casam antes dos 18 anos. Essa prática reduz drasticamente a escolarização, devido às responsabilidades que um casamento precoce impõe.
Proteger os direitos das crianças e adolescentes é essencial. O ECA — Estatuto da Criança e do Adolescente — descreve e garante os direitos à liberdade, ao respeito e à dignidade da criança como pessoa em processo de desenvolvimento, sujeito de direitos civis, humanos e sociais assegurados pela Constituição.
A Lei nº 8.069, o ECA, foi criada em 13 de julho de 1990 e, desde então, seguimos empenhados em seu cumprimento. O artigo 53 afirma que a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, ao preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho.
Além do ECA, no Brasil temos também a Lei nº 11.106/2005, que revogou dispositivos do Código Civil que permitiam o casamento de menores de 16 anos. É mais que necessário oferecer proteção integral às nossas crianças: saúde, educação, lazer, e um lar onde se sintam seguras, amadas e felizes.
Certa vez, participei de uma roda de conversa sobre o namoro na infância. Embora criança não namore, programas de TV, músicas e certos estilos de dança muitas vezes promovem uma erotização precoce, causando desconforto e contribuindo para a redução simbólica da infância.
Na ocasião, muito se discutiu também sobre os abusos a que nossas crianças estão expostas diariamente — muitas vezes dentro das próprias casas, perpetrados por familiares e amigos próximos. Cabe aos pais um acompanhamento atento e constante, para que nenhum mal seja cometido contra elas.
As escolas, de modo geral, podem iniciar esse diálogo por meio da literatura, abordando temas como o respeito ao corpo, os limites do toque, e o que é ou não aceitável. Todavia, às famílias cabe a maior parte do tempo e da responsabilidade de coibir qualquer tipo de abuso à integridade física e emocional das crianças.
A educação — somente ela — poderá auxiliar nossas crianças e adolescentes a se protegerem dos perigos que cercam a infância e ensinar como os vínculos familiares podem e devem ser saudáveis.
A amizade entre crianças deve ser incentivada, assim como os laços familiares precisam ser construídos sobre fundamentos sólidos de respeito, e protegidos com zelo tanto pela família quanto pelo Estado.
E vale dizer, mais uma vez e para sempre: criança não namora.
Adriana Frony, professora, administradora, especialista em gestão escolar, mídias sociais, mestranda em ciências da educação, escoteira, palestrante e mentora com mais de 30 anos de experiência na educação, dedicou-se a transformar a aprendizagem em uma experiência alegre e significativa para seus alunos. Acredita que educar é um ato de coragem e amor, que deve ser vivido com liberdade e criatividade. Contato: espacodeaprendizagemintegrada@gmail.com




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